Profissionais disputam a exclusividade na bichectomia
- Luciana Dadalto
- 1 de mar. de 2020
- 2 min de leitura

O Brasil lidera o ranking com maior número de cirurgias plásticas para fins estéticos no mundo, de acordo com o último levantamento da International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS). Foram realizadas 1,5 milhão de cirurgias no país, número que representa 13% do total mundial. Um dos procedimentos que tem caído no gosto dos brasileiros e gerado polêmica na sociedade médica é a chamada bichectomia. A cirurgia, voltada para fins estéticos e correções funcionais, tem gerado estresse para a determinação de qual profissional está apto para realizar o procedimento: cirurgiões plásticos ou dentistas?
Conforme a Resolução nº 1950/2010, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Conselho Federal de Odontologia (CFO) estabelecem, conjuntamente, critérios para a realização de cirurgias das áreas de boco-maxilo-facial e crânio-maxilo-facial. Dentre elas, enquadra-se a retirada de bolsas de gordura das bochechas, a bichectomia. Apesar de os conselhos já apresentarem orientações para execução de tal processo, os profissionais ainda discutem a exclusividade do ato médico.
A briga se estende justamente pelos médicos especializados em cirurgia plástica apostarem que a operação é de natureza médica e que podem ocorrer especificidades que o profissional de odontologia não está preparado para lidar. Enquanto dentistas reivindicam o ato por serem especialistas na área bucal e entornos. Apesar do conflito entre profissionais das duas entidades, observamos que critérios já foram estabelecidos conjuntamente pelas classes profissionais e devem ser respeitados.
De acordo com a Resolução, os dentistas podem realizar a bichectomia em pacientes que tenham indicação clínica em casos funcionais, como por exemplo, mordida que prejudique a dentição, a função mastigadora. Já para casos meramente estéticos, o procedimento é de responsabilidade exclusiva de cirurgiões plásticos. O profissional que realizar a bichectomia fora dos propósitos determinados pela ordem, poderá sofrer representação em seu conselho de classe.
Muito procurada pelas celebridades mundiais, a intervenção para a área estética virou moda em nosso país. Apesar dessa modificação em afinar o contorno facial parecer um processo simples, possui riscos, complicações e requer cuidados especializados. Em alguns casos, podem ocorrer hemorragias, hematomas e infecções. Ou, em virtude de imperícia médica, lesionar algum nervo capaz de causar paralisia facial ou afetar o canal por onde passa a saliva.
Em suma, a preocupação se estende quanto a cirurgias que obtiveram maus resultados e com possíveis desdobramentos jurídicos. Portanto, os cirurgiões, sejam plásticos ou dentistas, devem estar atentos à necessidade e real indicação do procedimento dentro de suas áreas para se resguardarem e para não colocar em perigo a integridade física de seu paciente. Seja por questões estéticas ou funcionais, a bichectomia deve ser levada em conta pela definição de “saúde” da Organização Mundial da Saúde (OMS), “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afeções e enfermidades”.
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